Experiência precoce

 

Embora os psicólogos já tenham salientado há algum tempo a importância da experiência precoce no desenvolvimento emocional, só muito recentemente é que tem sido dada a mesma atenção ao desenvolvimento cognitivo ou intelectual

  • Experiência precoce:

A chave para o enigma natureza – educação

A questão da natureza – educação não se resolveu durante muitos anos dado que neste tema foi formulado em termos de uma proposição ou/ou: os defensores da hereditariedade realçavam a hereditariedade em detrimento do meio vice-versa. Nenhuma das dimensões reconhecia a importância do terceiro factor, o tempo. Questão – chave : existe uma altura crítica ou um momento mais apropriado para a interacção ocorrer.

Relativamente á cunhagem (imprinting) é preciso recordar que os gansos bebés aprendam a seguir um estímulo em movimento apenas se esse estímulo for apresentado durante este período de tempo crítico nas suas vidas. Entre as 10 e as 32 horas após o seu nascimento. Após esse tempo não vale a pena apresentar o estímulo pois não ocorrer aprendizagem. É obvio que esta forma de aprendizagem requer um potencial hereditário e simultaneamente um encontro como o meio. Mas de facto o factor tempo o mais importante de todos . Pois se acontece cedo não ocorre aprendizagem, verificando – se o mesmo o se ocorre demasiado tarde.

  • Estudos sobre a hipótese dos períodos críticos:

McGraw, realizou um estudo sobre o desenvolvimento humano, utilizando dois rapazes gémeos como sujeitos de investigação. Um dos gémeos, Johnny, foi sujeito a um ritmo intensivo precoce numa grande variedade de actividades, Só foi dado este tipo de treino ou outro gémeo, Jimmy, meses mais tarde.

Pelas suas observações McGraw concluiu que existem períodos óptimos durante o desenvolvimento, em que o treino especial asseguraria a aquisição plena de diversas competências motoras. Mcgraw afirmou: “ existem períodos críticos em que uma dada actividade é mais susceptível a modificação através da repetição e do desempenho”.

De igual modo, o estudo de Berkeley realizado por Bayley propôs – se extrair alguns factores relativos às mudanças que ocorrem no processo de desenvolvimento intelectual.

Uma tentativa posterior foi o trabalho de Bloom.

Bloom afirmou que com o aumento da idade existe um efeito das influências do meio cada vez menor no desenvolvimento intelectual. Por exemplo, as crianças de três anos beneficiam mais de experiências enrriquecedoras que as crianças de nove ou dez anos. Quase dois terços do crescimento cognitivo individual encontra – se concluído por volta dos seis anos.

  •  HUNT:

Para Hunt a variedade de estímulos é um ingrediente crucial no crescimento cognitivo. No problema de ajustamento, Hunt aponta a importância de ajustar a quantidade da variedade de estímulos e à posição presente da criança no contínuo crescimento cognitivo.

  • PIAGET E BRUNER:

Piaget e Bruner desenvolveram sistemas de explicação acerca da forma como o desenvolvimento cognitivo ocorre e de quando ocorre. Ambos salientam a importância dos estímulos sensoriais recebidos e dos encontros com o o meio durante os primeiros anos da criança.

  • Hebb:

Hebb realça as modificações internas, fisiológicas, que ocorrem durante o crescimento e desenvolvimento cognitivo. Cita a organização neuronal que ocorre no Cérbero à medida que a capacidade de aprendizagem da criança aumenta. No momento do nascimento, as células cerebrais encontram – se relativamente desorganizadas e a organização celular ocorrem como resultado da própria serie de experiencias de aprendizagem da criança. ´

  • DAVID KRECH

O estudo de Krech sobre ratos mostra que a estrutura da composição química do Cérbero resulta, em parte, da quantidade e da qualidade da experiencia precoce do organismo. O desenvolvimento fisiológico requer uma estimulação precoce por parte do meio. Os resultados a longo prazo do programa Head Strat só agora começaram a surgir. Num dos estudos, o programa Perry para a pré – escola, as medidas de avaliação dos jovens de 19 anos que tinham sido crianças sujeitas ao programa, foram comparadas com um grupo de controlo de jovens não sujeitos ao programa. Em praticamente quase todas as categorias de medida, o impacto do programa teve efeitos positivos, desde um aumento da capacidade de rendimento académico, até a diminuição da actividade criminal. As conclusões de outros estudos, como o projecto de Milwaukee, criou esperanças, se bem que de forma cautelosa sobre o facto do crescimento intelectual poder ser maximizado através do uso de intervenções educativas inovadoras durante os primeiros anos de vida.

Conceito de Aprendizagem

Aquisição ou mudança relativamente estável e duradoura de comportamentos ou processos mentais, resultante da uma interacção com o meio, de alguma forma de exercício, experiência, treino ou estudo.

A aprendizagem é um factor essencial de mudança (pessoal e social) de atitudes e comportamentos. A aprendizagem determina o pensamento, a linguagem, as motivações, as atitudes e a personalidade. A aprendizagem implica comportamentos perceptivos, motores, intelectuais, emocionais e sociais. Não há aprendizagem sem memória; a memória permite reter o que aprendemos. A memória constitui uma espécie de base de dados que possibilita responder às situações presentes e projectar as situações futuras.

 

Tipos de Aprendizagem: Condicionamento Clássico

Este processo de aprendizagem foi estudado por PavlovPavlov constatou que os cães salivam sempre que o alimento lhes era colocado na boca e descobriu que também salivam quando viam o alimento, quando viam a pessoa que habitualmente lhes trazia o alimento ou quando ouviam os seus passos., a partir de experiências realizadas com cães.

Pavlov procurou estudar objectivamente o modo como os estímulos neutros provocavam a salivação e descobriu uma nova forma de aprendizagem. Perante a presença do alimento, a salivação é uma resposta inata, não aprendida. O reflexo condicionado é uma resposta aprendida a um estímulo inadequado. O condicionamento é uma forma simples de aprendizagem pela qual um estímulo neutro associado a um reforçador, provoca uma resposta.

  • Experiência realizada por Pavlov

            1.º - Pavlov apresentava a carne ao cão e este salivava;

2.º - Pavlov apresentava a carne acompanhada pelo som de uma campainha e o cão salivava.

       Repetiu várias vezes esta associação (Carne + Som);

3.º - Ao ouvir apenas o som da campainha, o cão passava a salivar.

 

Estímulo Neutro

o    Estímulo que, antes do condicionamento, não produz a resposta desejada.

       Ex: o som da campainha.

Estímulo não condicionado (incondicionado)

o    Estímulo que desencadeia uma resposta não aprendida.

        Ex: a carne.

Resposta incondicionada

o    Resposta não aprendida, inata.

      Ex: salivar com o cheiro da carne,

Estímulo condicionado

o    Estímulo neutro que, associada ao estímulo incondicionado, passa a provocar a resposta semelhante à desencadeada pelo estímulo incondicionado.

       Ex: o som, depois de associado à carne, passa por si só a provocar a salivação.

Resposta condicionada

o    Resposta que, depois do condicionamento, se segue ao estímulo que antes era neutro.

      Ex: salivar quando ouve o som.

 

Foram identificados alguns processos que envolvem o condicionamento:

Extinção - quando o estímulo condicionado é apresentado, repetidas vezes, sem ser seguido do estímulo incondicionado, a resposta condicionada, por não ser reforçada, deixa de se manifestar .

Generalização de estímulo -.refere-se à tendência para responder a estímulos semelhantes ao estímulo condicionado;

Recuperação espontânea – situação em que uma resposta que parece extinta, após um tempo de descanso, na presença do estímulo, reaparece (ainda que de forma mais atenuada);

Discriminação - o organismo dá resposta a um dado estímulo, mas não a estímulos semelhantes a ele, diferenciando assim respostas a estímulos diferentes. (Ex. cão saliva com o som de campainha, mas não saliva com o som de um diapasão).

O aprendizagem por condicionamento clássico consiste na aquisição de uma resposta observável (comportamento), a um estímulo também observável que, sendo inicialmente neutro, adquiriu propriedades de um outro estímulo (estímulo incondicionado) com o qual foi sistematicamente emparelhado, passando então a designar-se por estímulo condicionado.

O condicionamento clássico é uma forma de aprendizagem que está presente em muitos aspectos da vida humana; são muitos os estímulos para os quais temos respostas condicionadas. As experiências anteriores podem causar condicionamento. Sentir fome à hora das refeições é um exemplo de uma situação de condicionamento.

 

Condicionamento operante

Thorndike e Skinner identificaram este processo de aprendizagem, segundo o qual um comportamento é aprendido em função das consequências que se lhe seguem: é fortalecido (aumenta) quando é sistematicamente seguido de consequências positivas (reforços) e diminui ou desaparece quando é sistematicamente seguido de consequências negativas (punições).

  • Thorndike procurou descobrir se o modo de aprender dos animais era idêntico ao dos homens.

Thorndike construiu uma caixa-problema, uma gaiola com grades de onde o animal só podia sair se executasse uma acção - puxar um fio ou carregar numa alavanca.

No exterior da caixa, o experimentador colocava alimento que podia ser visto e cheirado pelo animal; neste caso eram gatos esfomeados que eram recompensados quando saíam, portanto, quando resolviam o problema.

Inicialmente, o animal investia contra as grades, mordia-as, miando desesperadamente, mas, passando algum tempo, e depois de várias tentativas e erros, por acaso, o animal accionava o mecanismo que abria a porta, recebendo alimento quando saía. Ao repetir a experiência, o animal demorava cada vez menos tempo a resolver o problema até que, ao entrar na caixa, já se dirigia directamente ao mecanismo, que accionava e que abria a porta, recebendo logo em seguida a recompensa.

Thorndike constatou que, à medida que a experiência é repetida, as respostas desadequadas (que vão enfraquecendo) são substituídas por respostas correctas e eficazes (que vão sendo fortalecidas).

Thorndike formulou a lei do efeito: se a resposta for recompensada, fortalecer-se-á; se não houver recompensa ou se houver castigo, a resposta enfraquecerá - as primeiras seriam como que gravadas e as segundas apagadas.

  • Skinner tendo como ponto de partida as investigações de Thorndike (a lei do efeito), vai analisar a aprendizagem como uma associação entre o estímulo e a resposta resultante de um acto do sujeito.

Skinner construiu uma caixa (caixa de Skinner ou câmara de condicionamento operante) dotada de um dispositivo especial: se uma alavanca for carregada ou um tecla premida, é libertado o alimento.

Nas experiências de Skinner, um rato é colocado no interior da caixa e, depois de a explorar, o animal carrega, por acaso, na alavanca e recebe o alimento. Quando o animal repete o comportamento obtém todas as vezes comida, que constitui o reforço; neste caso, o reforço é positivo dado que o animal tudo fará para o obter.

Existem também reforços negativos quando o animal procura fugir de estímulos dolorosos ou desagradáveis - o rato é colocado numa gaiola, sobre uma rede metálica, ao fundo da qual existe um pedal; pela rede faz-se passar uma corrente eléctrica que pode ser interrompida se o pedal for carregado.

Se o reforço for suspenso a resposta extingue-se, podendo depois ser recondicionada.

A recompensa é mais eficaz no reforço da aprendizagem do que a punição no enfraquecimento de um comportamento indesejável.

Skinner chamou a atenção para o efeitos indesejáveis da punição na educação dos seres humanos.

 

Noções de Reforço Positivo e Reforço Negativo

 Reforço Positivo - é o estímulo cuja presença serve para manter ou fortalecer a resposta; é o estímulo que tem consequências positivas e agradáveis e que se segue a um dado comportamento.

Reforço Negativo - o sujeito evita uma situação dolorosa se se comportar de determinado modo; é a eliminação de um estímulo que põe fim a uma situação aversiva e que serve para manter ou fortalecer a resposta.

 

Diferenças entre o Condicionamento Clássico e o Condicionamento Operante:

 

 

Condicionamento Clássico

Condicionamento Operante

Estímulos

Associação entre estímulos neutros e incondicionados.

O comportamento é acompanhado de consequências positivas.

Natureza do

Comportamento

Reflexos, respostas automáticas.

Comportamentos Adquiridos, Aprendidos.

Tipo de resposta

Involuntária.

Voluntária.

Papel do sujeito

Passivo; o comportamento do sujeito é mecânico.

Activo, o sujeito opera para obter satisfação e evitar a dor.

Tipo de Aprendizagem

A aprendizagem faz-se por associação de estímulos.

A aprendizagem faz-se por reforço (positivo ou negativo).

A aprendizagem social

A aprendizagem social foi estudada por Bandura. Segundo este psicólogo, é no contexto das interacções sociais que se aprendem comportamentos que nos permitem viver em sociedade e desenvolver capacidades especificamente humanas (como ler, escrever, falar, etc.).

A aprendizagem social resulta da observação dos comportamentos dos outros e da imitação desses comportamentos, sobretudo daqueles cujas consequências são entendidas como positivas. Os comportamentos observados são imitados, quando o indivíduo se identifica com o modelo social. A aprendizagem social desenrola-se ao longo der toda a vida.

Bandura designa este processo por modelação. Neste tipo de aprendizagem, o reforço tem uma grande importância na medida em que, ao observar o modelo que foi reforçado (reforço vicariante), ou ao receber o reforço a seguir ao comportamento desejado (reforço directo), o sujeito integra um novo comportamento no seu quadro de respostas. Por outro lado, pode surgir o efeito desinibitório (Ex: Se os pais exibem comportamentos agressivos a criança apresentará também comportamentos agressivos) ou inibitório (Ex: Se a agressividade é criticada pelos pais a criança inibe-a.)

Segundo Bandura, tenderíamos a imitar modelos sociais significativos, isto é, pessoas que são mais susceptíveis de se tornarem modelos (pela proximidade afectiva, a idade, o género e o estatuto social).

Outras aprendizagens… 

Aprendizagem motora – tipo de aprendizagem que envolve movimentos como andar, vestir, guiar um automóvel…

Aprendizagem de discriminação – permite-nos apreender as semelhanças e as diferenças entre objectos, pessoas, situações. Está na base de todas as outras aprendizagens.

Aprendizagem verbal – é a através da linguagem que estruturamos a nossa relação com o mundo e a nossa vida psicológica e que estabelecemos todas as nossas interacções sociais. É uma das mais importantes e distintivas aprendizagens do ser humano.

Aprendizagem de conceitos – é através dos conceitos (mesa, humanidade, liberdade, etc.) que organizamos as informações que recebemos

Aprendizagem de resolução de problemas – face aos problemas que se nos deparam procuramos soluções adequadas que vamos aperfeiçoando com a experiência, isto é, vamos aprendendo a resolver problemas.

 

Factores de Aprendizagem

Inteligência – uma forma de definir inteligência é precisamente entendê-la como a capacidade de aprender; se a inteligência for encarada como a capacidade do indivíduo se adaptar ao meio, vemos que implica a capacidade de mudar, ou seja, a aprendizagem. Os sujeitos com capacidades intelectuais significativas normalmente conseguem manipular símbolos, elaboraram raciocínios mais adequados, resolvem os problemas mais rapidamente e com menos erros.

Motivação –define-se como uma tensão interna que leva o indivíduo a agir com dinamismo e empenho em determinada direcção. Uma pessoa está motivada quando sente uma necessidade de agir para alcançar um objectivo; uma pessoa aprende mais facilmente se estiver motivada para isso. A motivação pode ser intrínseca - o sujeito aprende pelo prazer de aprender - ou extrínseca - o sujeito aprende porque espera uma recompensa – elogios, boa classificação, etc..

A motivação pode iniciar, continuar ou finalizar uma aprendizagem; pode ser a curto prazo ou longo prazo. A s sua importância a nível pedagógico centra-se na valorização da participação do aluno na sua própria aprendizagem.

Experiência Anterior – aquilo que se aprende implica frequentemente aprendizagens anteriores (exemplo: para aprender a interpretar um texto tem de se passar pela experiência anterior de decifrar letras e palavras). As experiências vividas influenciam também o interesse por determinado conteúdo. As situações vivenciadas influenciam as nossas atitudes face à aprendizagem, quer em relação aos conteúdos, quer em relação aos métodos utilizadas. A transferência de uma situação para outra pode facilitar - quando influência positivamente a nova aprendizagem - ou dificultar, quando inibe a nova aprendizagem.

Factores sociais – As condições socioculturais da família a que o sujeito pertence podem favorecer o processo de aprendizagem ao proporcionar mais recursos e experiências enriquecedoras. O modo como o meio em que o indivíduo está inserido valoriza a aprendizagem reflectir-se-á nas expectativas, que, se forem positivas, podem influenciar favoravelmente a aprendizagem.

A escola de pensamento defensora da experiência precoce acredita que facultando um ambiente mais benéfico durante os anos pré – escolares se pode esperar um aumento do nível de funcionamento intelectual, especialmente no caso de jovens culturalmente desfavorecidos. Na medida em que os efeitos da hereditariedade podem tornar – se mais pronunciados em ambiente mais uniformes, a posição dos defensores da experiência precoce é a de que as diferenças intelectuais entre os adultos serão reduzidas e as pessoas terão por isso, mais escolhas profissionais á sua disposição.

O papel do professor não é de modo algum minimizado pelos esforços dos especialistas da experiência precoce. Espera-se que ascriança sejam mais capazes de alcançar os seus potenciais intelectuais e, por isso mesmo, aproveitem melhor as experiências educativas.