Desenvolvimento cognitivo

 

 

  •   A teoria de Piaget é funcional/psicobiológica, porque acentua a adaptação do organismo ao meio e é estrutural/construtivista, porque realça a organização dos processos cognitivos.

 

  •  Os teóricos cognitivos acreditam que os processos do pensamento de uma pessoa ( a compreensão e a análise de situações em particulares) têm um efeito importante no comportamento do desenvolvimento. Piaget propôs a inteligência enquanto processo activo e contínuo, no qual o indivíduo desenvolve as formas gerais de pensar sobre as ideias, os objectivos e as experiências. Quando um indivíduo se torna atento às percepções e eventos que não podem ser facilmente compreendidos por um conceito (esquema) já existente, ele experiência um desenvolvimento cognitivo. Este estado conduz à modificação do esquema existente ora à criação de um novo esquema no indivíduo. Ao longo da sua vida, segundo Piaget, a aprendizagem é conseguida na medida que o indivíduo organiza e adapta activamente as suas estruturas mentais. O modo básico de pensamento do indivíduo, modifica-se ao longo de quatro estádios de desenvolvimento: Sensório motor, pré operatório, operatório concreto e operatório formal.

 

  Em que consiste o funcionamento inteligente inato para Piaget?

A inteligência na perspectiva piagetiana como um sistema adaptativo, o que significa que a inteligência é adaptação. Todos os organismos vivos tendem para a adaptação e organização. Enquanto a adaptação caracteriza o funcionamento interno, o segundo está implicado no funcionamento externo. Adicionalmente, a adaptação resulta do equilíbrio entre assimilação e acomodação. Esta premissa dirige – nos para três conceitos fundamentais da epistemologia genética.

 

Defende uma posição construtivista/interaccionista: as estruturas do pensamento são produto de uma construção contínua do sujeito que age e interage com o meio, tendo um papel activo no seu próprio desenvolvimento cognitivo.

Partindo dos reflexos do bebé, herdados geneticamente, a criança vai construindo progressivamente estruturas mentais até atingir o pensamento formal.

Assim, a inteligência é perspectivada como uma adaptação do indivíduo e das suas estruturas cognitivas ao meio. Esta adaptação assegura o equilíbrio entre o indivíduo e o meio através de dois mecanismos: assimilação e acomodação.

A adaptação é o processo interno de equilíbrio entre o organismo e o meio. Resulta da interacção entre a assimilação e a acomodação. É através da assimilação que o sujeito integra, incorpora os elementos do meio nas estruturas mentais já existentes. Por sua vez, as estruturas mentais modificam-se em função das situações novas/novos dados que provêm do meio – acomodação.,

Neste contexto, surge-nos também a equilibração, que é o mecanismo interno de regulação entre a assimilação e a acomodação que permite a adaptação do indivíduo ao meio, permitindo uma progressão no sentido de um pensamento cada vez mais complexo.

 

Factores de desenvolvimento

1.     Hereditariedade, maturação interna – a hereditariedade e maturação interna dos sistemas nervoso e endócrino, bem como o crescimento orgânico têm um papel importante no processo de desenvolvimento. Ainda que a maturação dependa fundamentalmente de factores genéticos, a estimulação do meio pode acelerar/retardar o processo de maturação;

2.     Experiência física – a acção exercida sobre os objectos desenvolve a motricidade a criança propiciando o seu desenvolvimento intelectual;

3.     Transmissão social – integrada na sociedade, a criança interage com o meio físico e social. Um meio mais estimulante favorecerá o seu desenvolvimento equilibrado. Contudo, o efeito de transmissão social, da educação, só tem resultado se houver uma assimilação activa do sujeito;

4.     Equilibração – mecanismo regulador da assimilação e acomodação que permite a adaptação do indivíduo ao meio, permitindo uma progressão no sentido de um pensamento cada vez mais complexo.

 

Estádios de desenvolvimento

 

Estádios de desenvolvimento

Estruturas com características próprias;

Ordem de sucessão constante (embora possam existir diferenças cronológicas);

Evolução integrativa – as novas aquisições são integradas na estrutura anterior.

Estádio sensório-motor

(dos 0 aos 18/24 meses)

Inteligência prática que se aplica à resolução de problemas concretos e que põe em jogo as percepções e o movimento – daí a designação de sensório-motor.

Dos reflexos inatos à construção da imagem mental, anterior à linguagem;

Coordenação de meios e fins;

Permanência do Objecto (8-12 meses) – a criança procura um objecto escondido, porque tem a noção de que o objecto continua a existir mesmo quando não o vê;

 Invenção de novos meios para resolver problemas, imagem mental (se ouve falar em pijama, avó, etc.) e formação de símbolos (18-24 meses);

Estádio pré-operatório

(dos 2 aos 7 anos)

Subestádio do pensamento pré-conceptual (2-4 anos)

Função simbólica – a criança passa a poder representar objectos ou acções por símbolos. Pode representar mentalmente objectos ou acções não presentes no campo perceptivo – imagem mental. Na linguagem as palavras representam pessoas, situações, etc. No jogo simbólico, faz-de-conta, a criança representa um conjunto de acções e os objectos são o que lhe apetecer (um pau é um cavalo ou um avião, ralha à boneca que se portou muito mal). No desenho desenha uma roda e diz que é um carro.

Egocentrismo – a criança (autocentrada) pensa que o mundo foi criado só para si e não compreende outras perspectivas;

Pensamento mágico:

Animismo – atribuição de emoções e pensamentos a objectos inanimados;

Realismo – a realidade é construída pela criança sem objectividade (se sonhou que o lobo está no corredor, pode ter medo de sair do quarto);

Finalismo – Dado o egocentrismo da criança as coisas têm como finalidade a própria criança (o monte é um declive para ela poder correr);

Artificialismo – explicação de fenómenos naturais como se fossem produzidos pelos seres humanos (o Sol foi acesso por um fósforo gigante).

Subestádio do pensamento intuitivo (4-7 anos)

Baseado na percepção dos dados sensoriais. A criança responde à questão que lhe é colocada com base na aparência.

O pensamento é irreversível

A criança pode classificar e seriar objectos por aproximações sucessivas, embora sem um lógica de conjunto

Estádio das operações concretas

(dos 7 aos 11/12 anos)

Reversibilidade mental (capacidade do pensamento voltar ao ponto de partida);

Pensamento lógico, acção sobre o real;

Operações mentais: contar, classificar, seriar;

Conservação da matéria sólida, líquida, peso, volume;

Conceitos de tempo e de espaço globais e de velocidade.

Estádio das operações formais

(dos 11/12 aos 15/16 anos)

Pensamento abstracto (as operações mentais não necessitam de apoiar-se no concreto para serem formuladas);

Operações formais, acção sobre o possível;

Raciocínio hipotético-dedutivo (o adolescente formula hipóteses e deduz conclusões; é capaz de resolver problemas a partir de enunciados verbais;

Definição de conceitos e de valores;

Egocentrismo cognitivo, que leva o adolescente a considerar que através do seu pensamento pode resolver todos os problemas e que as suas ideias são as mais correctas.

Vygotsky

Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934) Pensador importante, foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais (e condições de vida).  Pois ao contrario de Piaget , estava mais interessado em explicar as influências culturias no desenvolvimento.

A teoria sociocultural de Vygotsky é uma teoria de desenvolvimento, mas também uuma teoria de aprendizagem com implicações para a psicologia educacional.

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O conceito de mediação é o conceito central da sua psicologia.

Segundo Vygotsky, as funções cognitivas aparecem duas vezes no desenvolvimento cultural da criança:

  • primeiro a nível social: interpsicologicamente
  •  depois a nível individual : intrapsicologicamente

Vygotsky defendia que:
• As crianças constróem o seu conhecimento

• O desenvolvimento não pode ser separado do seu contexto social

• A aprendizagem pode liderar o desenvolvimento

• A linguagem desempenha um papel central no desenvolvimento da mente

 

A apropriação do conhecimento consiste no momento em que o aprendiz interiorizou ou aprendeu determinada informação ou conceito e é capaz de utilizar esse conhecimento independentemente.

A actividade humana é mediada pelo uso de ferramentas, que estão para a evolução
cultural como os genes para a evolução biológica.


Do mesmo modo que os sistemas de ferramentas, os sistemas de signos
(linguagem, escrita, numeração) são criados pela sociedade e mudam com o seu grau de desenvolvimento.


 Cada indivíduo alcança a consciência através da actividade mediada por essas ferramentas, que unem a mente com o mundo real dos objectos e dos acontecimentos.

 

E as funções mentais superiores:
- São dependentes das funções inferiores
- São determinadas pelo contexto cultural
- Evoluem de uma função partilhada para
uma função individual
(para Vygotsky, a escolaridade formal é um dos contextos mais favoráveis para o desenvolvimento das funções mentais superiores)

 

A Zona do Desenvolvimento Proximal (ZDP)

ZDP - uma área potencial de desenvolvimento cognitivo
• consiste na distância que medeia entre o nível actual de desenvolvimento da criança, determinado pela sua capacidade actual de resolver problemas individualmente, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de problemas sob orientação de adultos ou em colaboração com pares mais
capazes

A ideia da ZDP influencia a três níveis a concepção do processo de ensino/aprendizagem:
• No que se refere a como assistir uma criança na realização de uma tarefa
• a como assistir crianças
• a como determinar o que é apropriado do ponto de vista do desenvolvimento

 

A ideia de ZDP aumenta o alcance do que é considerado apropriado em termos de desenvolvimento:
• O que é apropriado em termos de desenvolvimento é normalmente definido pelas realizações independentes da criança, pelos processos e habilidades que tenham desenvolvido completamente. Não inclui o nível de desempenho assistido, nem os
processos e habilidades emergentes.

• Portanto, é mais previsível que os professores esperem a emergência espontânea de determinado comportamento antes de promoverem actividades que o
encorajem.
• Como resultado, as crianças só dispõem de oportunidades que Vygotsky considera o
nível inferior da sua ZDP.

 

Na ZDP decorre uma dialéctica incessante entre aprendizagem e desenvolvimento:
• A aprendizagem precede o desenvolvimento
• A aprendizagem progride mais rapidamente que o desenvolvimento
• A aprendizagem redunda em desenvolvimento

 

Pontos a recordar sobre a ZDP:
 

• O comportamento da criança durante o desempenho assistido revela os comportamentos que estão em vias de emergir. Se insistimos em desempenho independente apenas para descobrir onde é que uma criança está, o que sabe e o que pode fazer, então as habilidades que estão à beira de emergir nunca serão evidentes.
 

• O desempenho assistido é o nível máximo a que uma criança pode chegar, de momento.

 

• Quando uma habilidade está fora da ZDP, as crianças ignoram-na, falham ou usam-na incorrectamente. É pela observação das reacções/respostas que os professores conhecerão se a sua assistência cai dentro da ZDP.

• Os professores devem anotar com cuidado quais os tempos, ideias, actividades ou
actividades cooperativas que têm um efeito desejado na aprendizagem das crianças.


• Os professores não devem ter medo de tentar um nível mais elevado, mas devem ouvir as crianças, dando atenção às reacções às suas tentativas de as assistir a desenvolver ferramentas mentais mais elevadas - dentro das suas ZDPs e, assim, expandindo-as.

• A ZDP é uma “janela” de .


• As ZDP de cada aprendiz é única. Num grupo de aprendizes não é de se esperar
coincidência entre as várias “janelas” de aprendizagem.

 

Mediação exterior

O mediador externo,deve:

 

• Ter significado especial para a criança e ser capaz de invocar esse significado
• Estar ligado a um objecto que a criança use antes ou durante o desempenho da tarefa
• Manter-se saliente, visível
• Combinar mediação com linguagem e outras sugestões comportamentais
 
  •   Deve escolher-se um mediador cuja utilização possa “cair” dentro da ZDP da criança
  •  Deve usar-se o mediador para representar o que se pretende que a criança faça
 

Utilidade dos mediadores
 

• Tornam o processamento mental mais fácil e mais eficaz
• Eventualmente, darão às crianças ferramentas que as habilitem a empenhar-se em processos mentais superiores
 

Utilidade dos mediadores a curto-prazo :

• Darem suporte ao procedimento mental
• Ajudarem a criança a focar e a dar atenção à tarefa
• Funcionarem como estímulo fora da dependência do professor
• Permitirem que a tarefa seja desempenhada pela criança, de uma maneira mais eficaz

Utilidade dos mediadores a longo-prazo:

• Proporcionar assistência ao desenvolvimento das funções mentais elevadas
• Ajudar a criança a adquirir memória deliberada, atenção focada e auto-regulação
• Dar suporte à necessidade de expansão da ZDP