Desenvolvimento pessoal

  •  Não se deve olhar para o desenvolvimento pessoal como um processo separado dos outros aspectos do desenvolvimento. Existe uma tendência comum para papaguear a ideia de que os aspectos do desenvolvimento não são realmente separados, mas depois falar destes domínios como se fossem compartimentados.
  • Antes de Freud, o pressuposto comum era que as crianças com menos de seis anos eram criaturas vazias e desprovidas de mente.

 

  • FREUD

As concepções desenvolvidas por Freud têm um papel central na história da Psicologia pelo seu carácter inovador e revolucionário. O fundador da Psicanálise recusa a concepção, então vigente, segundo a qual o comportamento seria totalmente controlado pela razão e pela vontade. Afirma a existência do inconsciente que define como uma zona do psiquismo constituída por desejos, impulsos, fundamentalmente de carácter sexual – libido. Como o próprio nome indica, não seria possível aceder, através da introspecção, a esses materiais inconscientes; contudo, teriam grande influência no comportamento.

Uma outra inovação apresentada pela Psicanálise foi a afirmação da existência da sexualidade infantil, anterior, portanto, à puberdade. Manifestando-se desde o nascimento, a sexualidade assume diferentes manifestações nos diferentes estádios psicossexuais sendo um elemento essencial no processo de desenvolvimento da personalidade.

 

                Segundo Freud, o psiquismo humana seria constituído pelas seguintes zonas: id, ego e superego. O id é a zona inconsciente, constituída por pulsões, recordações e desejos de que não temos consciência. Existe desde o nascimento, regendo-se pelo princípio do prazer. Este princípio orienta-se pelo objectivo de satisfazer os impulsos e desejos, fundamentalmente de natureza sexual. O ego é a zona consciente do psiquismo que se forma a partir do id no primeiro ano de vida. Pressionado pelo id, que visa a realização de desejos e pulsões, e pelo superego, que representa a moral, o ego vive frequentemente conflitos. O superego é a instância do psiquismo que corresponde à interiorização dos valores e normas sociais e morais vigentes na sociedade. Constrói-se entre os 3 e os 5 anos no processo de socialização tendo como modelos os pais e outros adultos significativos. Pressiona o ego para não realizar os impulsos do id. O ego orienta-se pelo princípio da realidade que procura responder às exigências sociais.

                Com características específicas, as três instâncias do psiquismo têm dinâmicas próprias que são geradoras de conflitos. Concretamente, o ego é simultaneamente pressionado pelo id (satisfação dos desejos) e pelo superego (componente moral do psiquismo). As situações e conflito são geradoras de angústia e ansiedade existindo então mecanismos de defesa do ego (meios para reduzir os sentimentos de angústia a ansiedade/tensão que resultam desses conflitos.

 

CORRENTE

OBJECTO DE ESTUDO

OBJECTIVOS DE INVESTIGAÇÃIO

MÉTODO USADO

Associacionismo/

Estruturalismo

(Wundt)

Experiência consciente/

estados de consciência

Decomposição da experiência consciente nos seus componentes básicos

Introspecção analítica

(controlada)

 

Behaviorismo

(Watson)

Comportamento observável

Descrição, explicação e predição do comportamento

Medidas objectivas do comportamento;

método experimental

Psicanálise

(Freud)

Inconsciente; Estrutura/funcionamento do psiquismo

Compreensão da personalidade humana (normal e patológica)

Associação livre;

interpretação dos sonhos

Gestaltismo/

Psicologia da forma

(Kohler)

Percepção e Pensamento como totalidade

Compreensão da experiência em termos holísticos (com um todo) e não analisá-la em categorias arbitrárias

Introspecção formal;

método experimental

Construtivismo

(Piaget)

Estruturas da inteligência

Compreender as raízes dos diferentes conhecimentos e do desenvolvimento cognitivo

Método clínico;

observação naturalista

 

 

 

Método Introspectivo

O método introspectivo foi o primeiro método usado em psicologia científica. A introspecção analítica ou introspecção controlada foi usada pelos estruturalistas (Wundt). Os indivíduos eram submetidos a estímulos numa situação padronizada; auto-observando-se descreviam a observadores treinados o que sentiam e assim permitiam a análise dos processos mentais conscientes. Este método não vingou, dada a impossibilidade de resultados estáveis e válidos. No entanto, a introspecção continua a ser largamente usada, como método auxiliar, na investigação dos nossos dias.

Críticas e limitações da aplicação do método introspectivo:

  • Só se observa um fenómeno psíquico depois de ele ter acontecido. A introspecção é, no fundo, uma retrospecção;
  • Os dados da introspecção só podem ser comunicados através da linguagem. Muitas vezes, o sujeito tem dificuldade em exprimir o que sente por palavras; diferentes pessoas descrevem de forma diferente o mesmo fenómeno psicológico;
  • Os fenómenos psicológicos não são compatíveis com a introspecção, pois se se está muito emocionado, não se consegue analisar a emoção; e existe dificuldade em analisar fenómenos psicológicos que se sucedem rapidamente;
  • O indivíduo que pratica a introspecção é o único que observa a sua experiência interna. A sua observação não pode ser controlada por outro observador;
  • O método introspectivo não se pode aplicar aos domínios da psicologia infantil, da psicopatologia ou psicologia animal;
  • A tomada de consciência de um determinado fenómeno, implica a sua alteração.

Método experimental

- A adopção do método experimental correspondeu a uma necessidade de assegurar à Psicologia o carácter de ciência objectiva e rigorosa, seguindo o modelo das ciências da natureza.

- Procura compreender os factos que estuda através da identificação das suas causas. A relação causa efeito é enunciada na hipótese e testada na experimentação. Além disso, os resultados verificados na amostra significativa são generalizados à população estudada.

  • Etapas do método Experimental

1) Formulação de hipóteses – a hipótese prévia corresponde à suposição de relações entre diversos factos.

2) Experimentação

Manipulação e controlo das variáveis – o investigador faz variar um determinado factor (variável independente) e verifica as alterações dessa variável no comportamento que está a estudar – variável dependente.

Variável independenteFactor manipulado pelo experimentador e que pode ocasionar modificações na variável dependente. É manipulada pelo investigador e é o que se supõe ser a causa do comportamento que se pretende estudar.

Variável dependente – aspecto do conhecimento que o investigador pretende conhecer. A sua variação dependerá da variável independente.

Variável parasita ou externa – aspectos que o investigador não considerou na hipótese e que podem influenciar os resultados. As variáveis parasitas devem ser identificadas para se controlar o seu efeito.

Para poder controlar o efeito da variável independente na variável dependente o investigador vai formar dois grupos:

Grupo experimental – conjunto de indivíduos submetidos à experiência, isto é, que sofrem os efeitos da manipulação da variável independente; serve para verificar o efeito que a variável independente produz na variável dependente.

Grupo de controlo (ou grupo testemunha) – conjunto de indivíduos que não sofrem os efeitos da manipulação da variável independente, servindo se termo de comparação com o grupo experimental; serve para verificar se as alterações da variável dependente se devem ou não à variável independente

                Podemos distinguir dois tipos específicos de experimentação:

Experimentação provocada – o investigador manipula a variável independente para analisar os seus efeitos na variável dependente.

Experimentação invocada – o investigador observa situações que acontecem na vida corrente procurando estabelecer uma relação entre variáveis. Não há manipulação da variável independente.

A Psicologia recorre a dois tipos de experiências: experiência laboratorial (ao decorrer num ambiente artificial, o comportamento das pessoas pode sofrer distorções; no laboratório, estão ausentes variáveis que existem no meio natural e que influenciam o comportamento) e experiência de campo ou em contexto ecológico (estas experiências não permitem controlar todas as variáveis nem separar os diferentes factores).

3) Registo de Observações – implica as medições das variáveis dependentes.

4) Generalização dos resultados - É o processo de estender, para o universo, as conclusões obtidas através do estudo da amostra e criar uma lei científica.

População – grupo de indivíduos sobre os quais se pretende desenvolver um estudo.

 

Amostra significativa – é uma parte seleccionada da população a estudar, do universo que se pretende estudar e que reflecte as características dessa população permitindo a generalização.

 

Limitações do método experimental:

Há dificuldade em controlar variáveis que afectam o que se está a investigar (variáveis externas ou parasitas);

Há situações que, por razões de ordem ética, impedem o recurso à experimentação: não se podem provocar danos físicos ou psicológicos para se testar uma hipótese;

Não são tidas em conta as características particulares de um sujeito;

A complexidade do comportamento humano dificulta o isolamento das variáveis independentes;

Há dificuldade em se controlar as expectativas dos participantes.

 

Observação

 A observação pode ser considerada um método, um instrumento ou uma etapa de outros métodos; por isso, o observador tem tarefas idênticas às do experimentador – formular hipóteses, prévias controlar e generalizar resultados.

A observação pode ocorrer em laboratório (observação laboratorial) ou em contexto ecológico (observação naturalista). Nestes dois tipos de observação, o observador não participa na experiência (observação não-participante).

A observação laboratorial permite controlar melhor as variáveis, mas o ambiente é artificial, afectando por isso o comportamento dos sujeitos. Há comportamentos que não podem ser observados em laboratório – o observado tende a comportar-se de acordo com o que julga ser a expectativa do observador.

A observação naturalista valoriza a relação dos indivíduos com o meio em que estão inseridos, considerando que descolá-los desse meio equivale a uma perda de informação e uma distorção da mesma. Há dificuldade no controlo das variáveis.

Existe um outro tipo de observação em que o observador se integra na unidade social que vai estudar para recolher dados – observação participante. Valoriza a apreensão qualitativa do comportamento nos contextos sociais.

Existem diversas técnicas de registo sistemático dos dados da observação, tais como testes (situação de avaliação escrita, oral ou de realização de actividades), inquéritos (conjuntos de questões escritas), entrevistas, grelhas de observação (listagem de um conjunto de comportamentos a observar, que os sujeitos podem ou não emitir) e aparelhos de registo electrobiológico (electroencefalógrafo, cronoscópio electrónico, etc.).

  • Método Clínico

·         O método clínico aplica-se no estudo aprofundado de um indivíduo, situação ou problema. A pessoa é encarada como ser global e único.

·         Visa uma compreensão global e profunda dos processos que estão subjacentes aos comportamentos manifestados.

·         Implica uma atitude de compreensão e de procura de significações por parte do psicólogo;

·         Implica a intuição do psicólogo na sua relação com o sujeito – a relação que se procura estabelecer é de empatia (intersubjectividade), pois existem aspectos que escapam ao conhecimento racional e que são mais intuitivos.

·         Não isola variáveis como o método experimental: tem em conta todas as variáveis envolvidas.

·         Recorre a um conjunto específico de técnicas como a observação clínica, entrevista clínica, anamnese e testes.

 

Técnicas de observação clínica

Entrevista clínica – interacção verbal conduzida pelo psicólogo e que serve como meio de diagnóstico e psicoterapia. Através da entrevista, a pessoa pode entender melhor o que a preocupa, compreender-se a si própria e buscar estratégias para a resolução do seu problema.

Anamnese – conjunto estruturado de informações significativas passadas e presentes relativas a uma pessoa. Permite a compreensão aprofundada da história de um indivíduo.

Observação clínica – observação directa dos comportamentos e atitudes do indivíduo com o objectivo de compreender os seus problemas.

Técnicas psicométricas (testes) – constituem conjunto de respostas a questões e/ou actividades previamente definidas, para compreender determinado(s) aspecto(s) do individuo, tais como inteligência, personalidade e os aspectos instrumentais (agilidade motora, fluência verbal, etc.)

– são fundamentalmente usados para estudar fenómenos que não podem ser estudados directamente;

- testes projectivos – visam revelar aspectos mais profundos da personalidade que se projectam nas situações em que o sujeito é colocado. O material que constitui este tipo de teste deve permitir uma exploração livre e projectiva por parte do sujeito. (exs.: Testes de Rorschach, Teste de Apercepção Temática, Teste de Frustração, etc.)

 

Testes devem ter algumas qualidades metrológicas:

- Padronização – mesmas condições de aplicação, cotação e avaliação;

- Fidelidade – os resultados dos testes devem ser estáveis para permitirem previsões/conclusões;

- Validade – é importante definir claramente o que um teste mede realmente para permitir que se tirem conclusões;

- Sensibilidade – um teste é tanto mais sensível quanto melhor diferenciar os sujeitos.

  •                 Método Psicanalítico

O método psicanalítico tenta interpretar e tornar conscientes as informações que residem no imenso e profundo/submerso mundo do nosso inconsciente, de forma a compreender e evitar os comportamentos considerados desviantes, e, por isso, perturbadores da vida dos indivíduos.

                Tem uma aplicação terapêutica em várias doenças do foro psíquico, tais como depressões, neuroses, fobias, etc.

v Associações livres – o paciente diz o que lhe vem à mente e expressa os afectos e emoções sentidos, sem se preocupar com o sentido das suas afirmações. O objectivo é recordar os acontecimentos traumáticos recalcados, interpretá-los e compreendê-los.

v Interpretação de sonhos – considerada por Freud o meio de atingir o inconsciente do paciente. O material recalcado liberta-se, ainda que de uma forma distorcida, no sonho. O analista vai, assim, procurar o sentido oculto do sonho, ou seja, o significado profundo do sonho, incompreensível para o sonhador.

v Análises dos actos falhados – os actos falhados resultam da interferência de intenções diferentes que entram em conflito. São os desejos recalcados que dão origem aos actos falhados.

v Processo de transferência – a transferência é um processo em que o analisando transfere para o psicanalista os sentimentos de amor/ódio vividos na infância sobretudo relativamente aos pais. O psicanalista interpreta os dados do processo de transferência.

v Freud e o desenvolvimento

v O desenvolvimento da personalidade é explicado por Freud pela evolução da forma como o indivíduo, desde o nascimento, procura obter prazer – a sexualidade –, que na infância (sexualidade infantil) é sobretudo auto-erótica (dirigida a si mesma), e só a partir da adolescência passa a ser essencialmente voltada para os outros.

v Esta evolução permite definir estádios de desenvolvimento psicossexual, que se caracterizam pelo predomínio de uma zona erógena (região do corpo que, quando estimulada, dá prazer) e por conflitos psicossexuais entre a busca de prazer (pulsões sexuais/libido) e as forças que se lhe opõem (ódio, desespero, ausência de desejo, etc.) que vão condicionar o desenvolvimento das estruturas do aparelho psíquico (instâncias) e a relação dinâmica entre elas. A qualidade das experiências emocionais imprime uma direcção ao desenvolvimento da personalidade.

v  

v Freud propôs duas tópicas (teorias sobre a constituição do aparelho psíquico):

v 1ª Tópica: Inconsciente, Subconsciente e Consciente;

v 2ª Tópica: Superego (Supereu - normas sociais interiorizadas), Id (Infra-eu – fonte de pulsões) e Ego (Eu – mediador entre as pressões do Superego e do Id.)

v  

v 1ª Tópica

Inconsciente

Zona do psiquismo constituída por pulsões, desejos de carácter afectivo-sexual, recordações recalcadas e cujo acesso ao consciente é impedido pela censura.

Subconsciente

Zona do psiquismo entre o consciente e o inconsciente constituída por conteúdos que podem ser trazidos à consciência.

Consciente

Zona do psiquismo que corresponde aos pensamentos, representações, sentimentos, percepções a que o sujeito tem acesso directo através da introspecção.

v  

v 2ª Tópica

Id

Instância totalmente inconsciente do aparelho psíquico cujos conteúdos principais são as pulsões inatas (de carácter sexual e agressivo) e os desejos reprimidos; rege-se pelo princípio de prazer e pelo processo primário (procura imediata e sem reservas da satisfação e do prazer).

É amoral e ilógico

Ego

Instância fundamentalmente consciente que se forma a partir do Id. Regulador e gestor das forças contraditórias entre Id (pulsões inconscientes) e Superego (exigências do meio).

Tem preocupações lógicas, de coerência entre a força do id e os constrangimentos da realidade. Tenta ser moral; utiliza mecanismos de defesa; opõe-se ao id

Superego

Instância do aparelho psíquico cujos conteúdos representam as normas, regras e interditos sociais, culturais e morais interiorizados.

È o resultado da interiorização das imagens idealizadas dos pais e das regras sociais.

É base da consciência moral; regula os conflitos entre id e ego; é hipermoral.

v  

v  

      Estádios

Estádio oral

(até 1 ano)

A zona erógena é a boca (prazer em mamar, pôr objectos na boca…); com o desmame surge o conflito entre o que deseja e a realidade.

O Id (pulsões inatas) existe desde o nascimento. Começa a formar-se o Ego pela consciência das sensações corporais.

Estádio anal

(1-3 anos)

A zona erógena é a região anal (prazer em controlar a retenção e expulsão das fezes); sentimentos ambivalentes – conflito – o controlo fecal induz dor e não só prazer e há um desejo de ceder e, em simultâneo, de se opor às pressões sociais para a higiene.

Estádio Fálico

(3-5 anos)

A zona erógena é a região genital; a sexualidade deixa de ser exclusivamente auto-erótica e dirige-se aos pais, concretizada no Complexo de Édipo (atracção pelo progenitor do sexo oposto e agressividade perante o progenitor do mesmo sexo, visto como rival). Este conflito é ultrapassado quando a criança se identifica com o progenitor do mesmo sexo. As proibições e normas impostos no Complexo de Édipo são interiorizadas, dando origem à formação do Superego.

Estádio de Latência

(6-11 anos)

Há uma diminuição da expressão da sexualidade, mas a problemática do Complexo de Édipo permanece oculta, sem se manifestar. É neste estádio que ocorre a amnésia infantil que se trata do processo pelo qual a criança reprime no inconsciente as experiências perturbadoras do estádio fálico. É uma forma de defesa. A criança concentra a sua energia nas aprendizagens escolares e sociais.

Estádio genital

(a partir da adolescência)

A sexualidade passa a ser dirigida aos outros e à consumação do acto sexual. A problemática do Complexo de Édipo, latente na fase anterior, é reavivada e vai ser definitivamente resolvida pelo luto das imagens idealizadas dos pais.

Mecanismos de defesa: Ascetismo (negação do prazer, controlo das pulsões sexuais através de disciplina e isolamento) e Racionalização (o jovem procurar esconder os aspectos emocionais do processo adolescente, interessando-se por actividades do pensamento onde coloca toda a sua energia).

 

  • ERIKSON

Erikson critica Freud, porque ele não teve em conta, na sua concepção de desenvolvimento, as interacções entre o indivíduo e o meio. Por outro lado, enquanto Freud defendia que a energia que orientava o desenvolvimento era de natureza libidinal, Erikson enfatiza o processo de construção de identidade e a sua dimensão psicossocial. Além disso, considerava que Freud tinha uma tendência para patalogizar o comportamento.

Para Erikson, a energia que orienta o desenvolvimento é essencialmente de natureza psicossocial, pelo que Erikson valoriza as interacções entre a personalidade em transformação e o meio social. O desenvolvimento é um processo contínuo que se inicia com o nascimento e se prolonga até final da vida. A personalidade constrói-se à medida que a pessoa progride por estádios psicossociais que, no seu conjunto, constituem o ciclo da vida.

Erikson propõe oito estádios psicossociais, perspectiva oito idades no desenvolvimento do ciclo de vida, desde o nascimento até à morte, tendo em conta aspectos biológicos, individuais e sociais.

Em cada estádio, há um predomínio de uma tarefa, que assume a forma de um conflito, ou crise, (psicossocial) entre duas dimensões (uma positiva e uma negativa), induzido pela interacção entre as exigências da sociedade e as características do indivíduo. No momento de crise, o indivíduo cresce psicologicamente e a forma como resolveu os diversos conflitos vai afectar a forma como lida com eles no presente e no futuro. O desenvolvimento resulta da resolução das sucessivas crises e proporciona a aquisição de novas competências. As crises não resolvidas dificultam ou impedem o desenvolvimento e a resolução de conflitos posteriores.  Apesar disso, em fases subsequentes, o indivíduo pode passar por experiências positivas que contrariem as vivências tidas em estados anteriores.

Um aspecto central da teoria de Erikson é o conceito de epigénese. Este conceito traduz-se no facto do desenvolvimento psicológico não ocorrer ao acaso, mas através de estádios, de acordo com as orientações de um plano de fundo. Este plano de fundo não transforma o desenvolvimento num processo automático, pois está dependente das oportunidades de interacção entre o indivíduo e o meio.

 

         Estádios

Confiança

versus

Desconfiança

(até aos 18 meses)

Este estádio é marcado pela relação que o bebé estabelece com a mãe: se é compensadora, o bebé sente-se seguro, manifestando uma atitude de confiança face ao mundo; se não é satisfatória desenvolve sentimentos que conduzem ao medo/desconfiança em relação aos outros. A virtude adquirida na resolução, positiva da crise confiança versus desconfiança é a esperança.

Autonomia

versus

Dúvida e Vergonha

(18 meses-3 anos)

Se é encorajada a criança explora o mundo autonomamente; se é muito controlada pelos pais, sente dúvida (precisa da sua aprovação) e vergonha. A virtude adquirida é a força de vontade.

Iniciativa

versus

Culpa

(3-6 anos)

A criança obtém prazer da realização de actividades por iniciativa própria, sente orgulho nas suas capacidades; se é muito punida, sente-se culpada por agir de acordo com os seus desejos; revela falta de espontaneidade e sente-se inibido. O núcleo significativo de relações estabelece-se com a família e a virtude própria deste estádio é a tenacidade.

Indústria

versus

Inferioridade

(6-12 anos)

Na escola, a criança desenvolve aprendizagens (escolares, sociais…), que podem fazê-la sentir que é competente ou que é menos capaz que os colegas. Se prevalecer o fracasso na resolução da crise, a criança sente-se preguiçosa e evita entrar em competição; considera-se inferior e medíocre.

Identidade

versus Difusão/Confusão

(12-18/20 anos)

O adolescente procura saber quem é (construção da identidade) em que quer tornar-se; pode também ficar confuso face a tantas possibilidades, sem saber o que quer, como agir, que pessoa é (confusão de identidade e de papéis). Aquele que resolve a crise de forma positiva adquire a lealdade como virtude. Ser leal é ser fiel a si próprio à sua identidade.

Intimidade

versus

Isolamento

(18/20-30 e tal anos)

O jovem adulto pode estabelecer relações de proximidade e partilha (amor e afiliação) com pessoas íntimas ou pode distanciar-se e fechar-se. Ou apresenta uma sexualidade enriquecedora e vínculos sociais abertos e estáveis ou isola-se e tem dificuldades em relacionar-se; as suas relações são inautênticas e instáveis.

Generatividade versus

Estagnação

(30 e tal – 60 e tal)

O conflito centra-se na expansão das potencialidades de adulto e na sua transmissão aos outros – gosta de colaborar com as novas gerações. Pode, por outro lado, tornar-se inactivo, se acha que não consegue ou que não tem nada de interessante para transmitir. Apresenta sinais de estagnação; é improdutivo e está apenas preocupado consigo próprio. A virtude inerente a este estádio é a produção.

Integridade

versus

 Desespero

(mais de 65 anos)

O indivíduo avalia a sua vida, podendo experimentar sentimentos de integridade ou de desespero; faz um balanço da sua vida: positivo ou negativo. A integridade resulta de uma avaliação positiva da sua existência; aceita a existência como algo de valioso e sente-se satisfeito com a vida. O desespero resulta de uma avaliação negativa da sua existência e da impossibilidade de a recomeçar; considera a vida como tempo perdido e que é impossível recuperar.

O núcleo significativo de ralações é representada pela humanidade e a virtude adquirida neste estádio é a sabedoria.

 A promoção de um desenvolvimento pessoal saudável durante a adolescência sempre foi difícil. Mas os professores podem desempenhar um papel estratégico na facilitação e encorajamento do desenvolvimento da personalidade estabelecendo programas de acção e aprendizagem para os alunos.