O fim da vida: morte e luto.

 

Morte e Luto

 O médico deve compreender a natureza das pessoas em relação à morte, seus próprios sentimentos e atitudes, de forma a trabalhar eficazmente com os pacientes.

-   O Significado da Morte

A reacção à morte depende do contexto. No caso da morte oportuna, a pessoa morre quando tal deveria previsivelmente ocorrer, e os que devem suportar o luto não se surpreendem com a morte. No caso da morte inoportuna, refere-se a: (1) morte prematura de pessoa muito jovem; (2) morte súbita, inesperada; ou (3) morte catastrófica, associada a acidentes ou atos de violência, vista como absurda. A morte também pode ser intencional (a pessoa exerce papel em seu suicídio) e subintencional (apressada por maus hábitos). A morte pode ter muitos significados psicológicos, podendo ter papel de uma metáfora ou ser vista como castigo.

-   Morte Súbita de Origem Psicogênica

Desencadeada por fatores emocionais, por exemplo, ataques cardíacos que ocorrem após stresse psíquico súbito. A morte por vudu, feitiços ou bruxarias pode ser causada por pessoa que supostamente tem esse poder e o utiliza contra alguém que acredita nesse poder. Causa-se uma disfuncionalidade no eixo hipotalaâmico-adrenal-hipofisário e no sistema nervoso autônomo por estresse emocional, ocasionando paralisação das funções vitais.

-   Aspectos Legais da Morte

De acordo com a lei, o médico deve assinar um atestado de óbito, no qual indica a causa da morte, bem como esclarece se a morte foi natural, acidental, por suicídio, homicídio ou causas desconhecidas. Em alguns casos realiza-se uma autópsia psicológica, através da qual pretende-se descobrir se doenças mentais (como depressão) estavam presentes quando da morte.

-   Reações à Morte Iminente

Esses estágios foram propostos por Elisabeth Kübler-Ross

1.       Choque e Negação

O choque é a reação inicial de uma pessoa que toma conhecimento de que vai morrer. Depois o paciente pode recusar-se a acreditar no diagnóstico e procurar vários médicos. O médico deve garantir ao paciente que não o abandonará, bem como esclarecer sobre a doença e as opções de tratamento.

2.       Raiva

Os pacientes podem desenvolver frustração, irritação ou raiva por estarem doentes. Enfurecem-se contra Deus, amigos, parentes e o próprio médico. Nessa fase são difíceis de tratar. O médico deve responder à raiva com empatia e de forma não-agressiva, de modo a aliviar a raiva do paciente.

3       Depressão

O paciente apresenta sinais clínicos de depressão, que pode ser uma reacção aos efeitos da doença sobre a vida do paciente ou pode ocorrer em antecipação à perda real da vida.

4       Aceitação

O paciente percebe que a morte é inevitável e aceita a universalidade da experiência.

-   Os Cuidados com o Paciente Moribundo

Para que o médico cuide, com eficácia, do paciente moribundo, é importante a sua conscientização acerca de suas próprias atitudes relativas à morte e ao morrer. Do contrário, o encontro com o paciente pode ser experimentado como fonte de irritação, impaciência e temor. Alguns médicos sentem-se onipotentes com relação à prevenção da morte; para eles, o paciente moribundo é uma lembrança dolorosa da sua própria condição de ser humano falível. A principal tarefa de um médico face a um paciente terminal consiste em proporcionar apoio solidário e conforto contínuo, o que inclui: visitas regulares ao paciente, manutenção do contato visual, contactos físicos apropriados, atenção ao que o paciente tem a dizer e disposição de responder a todas as perguntas de modo respeitoso. O médico deve incentivar a família e o paciente a conversar abertamente sobre o assunto. Outro factor a ser considerado é o controle da dor, que deve ser vigoroso. O médico deve usar narcóticos, de forma a permitir que o paciente realize suas actividades com um mínimo de desconforto. O médico deve desenvolver uma aliança com a família, permitindo que seus membros falem sobre suas vidas e tensões e oferecendo compreensão; deve também tentar evitar o surgimento de conflitos internos, e voltar a atenção da família para o moribundo que precisa de apoio.

-   Critérios para a Determinação da Morte e Testamentos de Vida

De acordo com a Lei Norte-Americana de Determinação Uniforme da Morte, um indivíduo está morte quando sofreu qualquer dos seguintes: (1) paragem irreversível das funções circulatória e respiratória; (2) paragem completa das funções de todo o cérebro, incluindo o tronco encefálico.

Testamentos de vida são documentos legais nos quais os pacientes dão instrução a seus médicos quanto ao não-uso de medidas de suporte à vida. Entretanto os médicos devem exercer seu bom-senso. A decisão é tomada em conjunto com a família do paciente ou seu guardião legal.

-   Eutanásia

É o acto de matar uma pessoa doente ou ferida sem esperanças de recuperação, por razões de piedade. Apresenta duas formas: activa e passiva, sendo que qualquer uma das duas pode ser voluntária ou não-voluntária.

-   Atitudes com relação à morte ao longo do ciclo vital

Os estágios do desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças exercem um papel significativo na sua percepção, interpretação e entendimento da morte, pois sua capacidade para compreender a morte reflete sua capacidade para compreender qualquer conceito abstrato.O facto de se esconder das crianças o conhecimento sobre a morte faz surgir temores irracionais nas mesmas. O tratamento de adolescentes moribundos pode ser difícil devido à sua intensa necessidade, em determinados momentos, de independência e controle. Os adultos jovens temem a sua morte inoportuna pensando que seus filhos não serão criados com carinho e também que nunca experimentarão o prazer de serem avós. Os adultos de meia-idade podem sentir-se frustrados com as suas esperanças de se envolverem com a próxima geração e em seus planos de desfrutarem dos prazeres conquistados. Já as pessoas idosas devem confrontar a crescente realidade de sua própria realidade, através da morte de familiares e amigos.

-   Tristeza, Lute e Perda

Aplicam-se às reações psicológicas daqueles que sobrevivem a uma perda significativa. Tristeza refere-se ao sentimento subjectivo, precipitado pela morte de alguém querido. O luto é o processo através do qual a tristeza é resolvida. Perda significa ser privado de alguém, pela morte. O luto é caracterizado como sendo uma síndrome, com sinais, sintomas, curso demonstrável e resolução previsível. O luto pode ocorrer como resultado da perda de uma pessoa amada, mas também com relação à perda de personalidade, de uma figura nacional ou de um animal de estimação. O trabalho de luto é um processo psicológico complexo, retirando o apego e elaboração da dor do luto.